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A Inteligência Artificial não começou com prompts: ela começou com perguntas!

Quando iniciei o curso de Ciência da Computação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1983, Inteligência Artificial já era uma disciplina formal de meio de curso. Sim, isso mesmo que você leu! Estudava-se IA sem haver internet, armazenamento em nuvem e os computadores pessoais eram peças raríssimas e inacessíveis.

Estudávamos os fundamentos matemáticos, os algoritmos, estatística avançada e os modelos lógicos. Mas havia um “pequeno” problema: não existia máquina suficiente para “rodar” nada daquilo, muito menos dispositivos de armazenamento de grande massa de dados.

As CPUs da época mal processavam rotinas básicas nas imensas salas dos chamados Centro de Processamento de Dados (CPD). Os dados eram guardados em fitas magnéticas que ocupavam salas iguais ou ainda maiores. As “fitotecas”! Os discos de armazenamento (os HDs da época) eram “panelões” enormes, e o armazenamento era medido em Kbytes. Aprendizagem de máquina estava nos livros, mas a implementação prática era pura ficção científica.

E é justamente aí que entra o ponto central que desenvolvo aqui: Inteligência Artificial não é um tema novo. Sequer o nome “IA” é novo! O que mudou foi a capacidade de processar o que sempre esteve na teoria, além da necessidade de grande armazenamento de dados algo que simplesmente não existia na prática.

A IA NÃO COMEÇOU COM O CHATGPT!

Foi Alan Turing, ainda nos anos 1940, quem lançou as bases da computação moderna.

Na Segunda Guerra Mundial, ele desenvolveu uma máquina para decifrar mensagens alemãs que eram criptografadas por eles nas máquinas chamadas “Enigma”. Há estimativas que este seu trabalho, precursor da ciência da computação, teria antecipado o fim da guerra em dois anos e, por isso, teria salvado milhões de vidas. Contudo, esse trabalho ficou sob sigilo e confidencialidade estratégica e só veio a ser reconhecido publicamente cerca de 30 anos após sua morte prematura.

Depois, Turing formulou a pergunta que definiria uma era:

“As máquinas podem pensar?”

Essa pergunta levou Alan Turing, em 1950, a propor o Teste de Turing, no qual uma máquina é considerada inteligente se, em uma conversa, um avaliador não conseguir distinguir se está interagindo com uma pessoa ou com uma máquina, ou seja, se ela conseguir exibir comportamento verdadeiramente inteligente. Simples, não é mesmo?

OS MARCOS DA EVOLUÇÃO DA IA

A partir daí, consolidou-se um campo de pesquisa que evoluiu por décadas, acompanhando o aumento de processamento de máquina e capacidade de armazenamento de dados (anos ilustrativos, indicam os principais marcos aproximados da evolução da IA).

1956: O termo “Inteligência Artificial” é cunhado na conferência de Dartmouth (organizada por John McCarthy, Marvin Minsky, Nathaniel Rochester e Claude Shannon), marco considerado o nascimento da disciplina como campo de pesquisa.

Anos 1980: o Machine Learning (aprendizado de máquina) ganha força, com algoritmos que aprendem a partir de dados e evoluem com base em estatística e probabilidade. Hoje, está presente em sistemas de recomendação como o da Netflix, que aprende seus gostos e sugere o que você pode querer assistir. É por isso que cada pessoa vê sugestões diferentes na tela inicial!

2012: Deep Learning(aprendizado profundo) revoluciona a visão computacional com redes neurais inspiradas no cérebro humano que, alimentadas com milhões de imagens e processadas por computadores mais “poderosos”, conseguem “enxergar” e reconhecer objetos melhor do que qualquer tecnologia anterior. O Deep Learning ajusta e interpreta padrões complexos em larga escala. Exemplo: Reconhecimento facial e marcação automática de pessoas em redes sociais. Também os assistentes de voz como Siri, Alexa e Google Assistant usam deep learning para entender sua voz, interpretar o que você quer e responder de forma natural.

2021: IA Generativa começa se popularizar. Em 2022 o lançamento do Chatgpt coloca a IA Generativa ao alcance de todos . São modelos capazes de criar novo conteúdocomo texto, imagem, som e código baseados em exemplos prévios, indo além da classificação e predição (Exemplos: ChatGPT, DALL-E, Gemini, Grok, Perplexity, Claude, etc.).

Enquanto o Machine Learning aprende padrões e o Deep Learning aprofunda essa capacidade em problemas complexos, a IA Generativa cria algo inédito, com aparente criatividade, a partir de grandes volumes de dados.

Conteúdo do artigo
* Anos ilustrativos, indicam marcos aproximadas da evolução da IA.

O que vemos hoje é o ápice de um processo que começou há mais de 70 anos, sendo tudo dentro do mesmo campo chamado Inteligência Artificial conforme mostra a ilustração acima.

E por que empresas como a NVIDIA se tornaram tão relevantes hoje em dia? E por que se fala tanto em terras raras atualmente, inclusive por seu impacto geopolítico? A primeira porque fornece a potência computacional que a IA precisa para deixar de ser teoria e se tornar realidade. Já as terras raras são essenciais na fabricação de componentes eletrônicos de alta performance, abundantes na China e com disponibilidades também no Brasil.

O HYPE É RECENTE. A IA, NÃO.

Muita gente olha para a IA como se ela tivesse surgido em 2022. Mas para quem viveu o início dessa história sabe: a base foi construída por gerações de cientistas, engenheiros, estatísticos, matemáticos e visionários.

Na minha trajetória, vi a IA sair dos livros e entrar nas empresas, nas escolas, nos hospitais, na gestão organizacional. Vi também o discurso tornar-se “palavra da moda” (e não sem razão), mas, às vezes, perdendo sua essência.

Hoje, muitos acreditam que Inteligência Artificial é sinônimo de ferramentas de IA generativa, como exemplificado acima. Sim, são ferramentas poderosas. Mas elas são apenas o capítulo mais recente de uma longa história.

E como diz o professor Dan Ariely (Prof. Universidade de Duke EUA- psicologia e economia comportamental), em citação adaptada ao contexto de IA:

“Inteligência Artificial e Big Data são como sexo na adolescência: todo mundo fala sobre, ninguém sabe realmente como fazer, todos acham que os outros estão fazendo, então todos dizem que também estão fazendo.”

Essa frase, embora divertida, é um alerta: muitos estão “pegando o bonde andando” sem saber de onde ele veio ou para onde está indo. E nunca esqueça: a IA começou quando ainda havia bondes circulando por aí!

A história da IA é coletiva. Não é algo que está só começando. É resultado de uma jornada de décadas de pesquisa e inovação!

🎬 Se você gostou desta história, não deixe de assistir ao filme “O Jogo da Imitação” (2014 — atualmente na HBO Max), que retrata o trabalho de Alan Turing na Segunda Guerra Mundial. O herói sem armas! Há mais segredos nesta história para você descobrir no filme.